Arquétipos para a

Construção de Personagens

Por Sandro Massarani Um dos processos mais comuns de criação de personagens está fortemente relacionado a utilização de arquétipos pelo autor. Basicamente, os arquétipos na escrita são modelos iniciais, contendo características básicas essenciais que formam o rascunho de uma determinada personalidade e que servem de ponto de partida para a elaboração de personagens. A utilização de arquétipos para estudar o homem vem desde Platão, o primeiro a utilizar o termo, e ganhou grande força com os estudos do psicólogo Carl Jung, que defendia a idéia do inconsciente coletivo na humanidade, ou seja, que os homens de diferentes sociedades possuem características comuns mesmo nunca estando em contato uns com os outros. Jung diz que todo ser humano tem cinco arquétipos principais (A Sombra, A Anima, O Animus, A Persona, O Eu) que se combinam formando seu caráter. Muitos teóricos, não só da narrativa, mas também da sociologia e antropologia, vão avançar os estudos dos arquétipos, buscando cada um a seu modo, definir quais seriam as "personalidades padrão" de todo homem. Abaixo, descreverei de maneira breve os principais arquétipos definidos por Vyctoria Lynn Schmidt em seu livro 45 Masters Characters. São 8 arquétipos masculinos e 8 femininos, cada um com seu "lado negro", totalizando os 32. Deixei de fora os arquétipos secundários pois eles são apenas derivados dos arquétipos principais. É um dos melhores estudos sobre o assunto. É bom notarmos que utilizar um arquétipo de "lado negro" e obter a simpatia da audiência é uma tarefa complicada, mas que se for bem sucedida trará bons frutos para a obra. É o caso da audiência estabelecer forte laços com vilões máximos como Darth Vader e Hannibal Lecter. Nem todos os escritores são favoráveis a utilização de arquétipos. Um dos principais problemas na utilização desse sistema é o autor criar personagens estereotipados, ou seja, caricatos, simples, sem complexidades, baseados em clichès. Logo, um personagem realista geralmente é baseado em mais de um arquétipo, se tornando mais complexo. Devemos sempre lembrar que não há nenhuma regra rígida e que podemos criar um personagem masculino usando apenas os arquétipos femininos. Os arquétipos também são totalmente abertos a interpretações e depois do personagem pronto pode ficar difícil determinarmos o arquétipo dele! Na verdade, a minha opinião é a de que devemos estudar e praticar bastante o assunto para o processo de criação se tornar cada vez mais natural e intuitivo, sem depender de listas e classificações.

PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS MASCULINOS (Victoria Lynn Schmidt):

1. O Homem de Negócios O homem de negócios é aquele que é viciado em trabalho, vendo o sucesso como prioridade em detrimento de amizades. Geralmente é racional, utilizando constantemente a lógica, tendo necessidade de ver tudo organizado. Como passa mais tempo na sua vida profissional do que familiar, não dá um bom marido ou pai. Usa regras e ordens para evitar seus sentimentos. É o arquétipo clássico do detetive. Exemplos: Sherlock Holmes, Dr. Spock (Jornada nas Estrelas), Hercule Poirot (Agatha Christie), Tio Patinhas. 2. O Traidor (lado negro do Homem de Negócios) Quando o Homem de Negócios cruza os limites e passa a ter sede de poder. Só enxerga o trabalho, gosta de humilhar e manipular as pessoas, vendo-as como simples peças em um tabuleiro. Muitas vezes acredita estar fazendo o certo. Exemplo: Ebenezer Scrooge (Um Conto de Natal de Charles Dickens). 3. O Protetor É aquele que busca proteger todos que estão em sua volta, e que deseja viver em uma redoma protegida. Pode explodir a qualquer momento e vive mais de acordo com seu corpo do que sua cabeça. Procura fazer as mulheres se sentirem especiais. Exemplos: Super-Homem, Rocky Balboa, John Mclane (Duro de Matar). 4. O Gladiador (lado negro do Protetor) É aquele que não sente prazer em proteger, mas sim em destruir, tendo ganância e desejo de sangue. Possui um comportamento altamente impulsivo e imprevisível, não se importando com nada ao seu redor. A vida pode se assemelhar a um jogo. Exemplo: Tony Montana (Scarface). 5. O Recluso É o arquétipo de quem gosta de ficar sozinho, não se sentindo a vontade na presença de muitas pessoas. Pode ter uma vida interior privilegiada e um espírito criativo, que utilizado de forma exagerada leva o personagem a se perder em suas próprias fantasias. Passa horas lendo, estudando e analisando idéias, tendo como motivação o conhecimento. Seus relacionamentos geralmente são direcionados pela mulher, líder da relação. Exemplo: Fox Mulder (Arquivo X), Victor Frankenstein, Dr. Jekyll. 6. O Bruxo (lado negro do Recluso) Busca o conhecimento para fazer o mal aos outros e ao ambiente, sendo altamente egoísta. O extremo do solitário, buscando evitar pessoas. Exemplos: Drácula, Dr. Hannibal Lecter (Silêncio dos Inocentes). 7 . O Tolo É um homem que por dentro ainda é um menino, tendo um ótimo relacionamento com crianças pois possuem várias semelhanças. Ama piadas, e faz amigos por onde passa. Muitas vezes age com inconsequência, pois está sempre buscando viver o agora, sendo um espírito livre. Adora ser o centro das atenções. Exemplos: Joey Tribbiani (Matt Leblanc em Friends), Cosmo Kramer (Michael Richards em Seinfeld). 8. O Abandonado (Lado negro do Tolo) É o mendigo, vagabundo ou ladrão que fica nas ruas. Geralmente é o homem da lábia que convence e manipula. Se os seus pais forem de uma condição social elevada isso pode ser um grave problema, pois se torna arrogante e acha que está acima da lei. Exemplo: Randle Patrick (Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho). 9. O Homem das Mulheres Ama as mulheres e qualquer coisa relacionada a elas. Possui fortes amizades femininas e enxerga a mulher como igual ou superior, vendo extrema beleza em todas elas. Muitas vezes não se dá bem com homens mas não liga pra isso. Pode ser afeminado ou não. Exemplos: Shakespeare (Joseph Fiennes em Shakespeare Apaixonado), Jack Dawson (Leonardo DiCaprio em Titanic). 10. O Sedutor (lado negro do Homem das Mulheres) É aquele que vive para arruinar a vida das mulheres. Pode possuir obsessão em relação a uma mulher que não lhe dá atenção e gosta de destruir corações, pisoteando sentimentos após a conquista. 11. O Messias Masculino Aquele que possui uma forte causa, muitas vezes divina. Pode ter características andrógenas e absorver facilmente qualquer outro arquétipo. Exemplo: Jesus Cristo, Luke Skywalker (Guerra nas Estrelas), Neo (Matrix), Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Robin Hood, William Wallace (Coração Valente). 12. O Justiceiro (lado negro do Messias Masculino) Sua palavra é a lei, porém não é um vilão no sentido de ganhos pessoais pois acredita que está fazendo o melhor para seus seguidores. Gosta de quebrar o ego das pessoas e humilhá-las para depois convertê-las. Exemplo: Charles Kane (Orson Welles em Cidadão Kane), Darth Vader (Guerra nas Estrelas). 13. O Artista Está sempre em contato com suas emoções, canalizando-as para algo criativo, mas muitas vezes não as controla, podendo explodir, afetando quem estiver em sua volta. Não é bom administrador e depende de alguém para ajudá-lo. Geralmente é inseguro e demonstra constantemente sua insatisfação, se importando com o que os outros pensam dele. Exemplo: Vincent Van Gogh, Mozart (Tim Hulce em Amadeus). 14. O Abusado (Lado negro do Artista) Quando o Artista não consegue controlar suas emoções se tornando uma pessoa volátil e extremamente vingativa, ultrapassa todos os limites descontando sua frustração em todos ao redor. É o homem que espanca a mulher e logo em seguida envia flores com pedidos de desculpa. 15. O Rei É aquele que necessita de um "reino" para controlar. Geralmente é um político ou um chefe, vivendo em excesso. Ama dominar. Não consegue enxergar todo o problema e ignora os detalhes e as emoções. Quando fracassa busca preencher o vazio com bebidas e sexo. Exemplos: Rei Artur, Júlio César. 16. O Ditador (lado negro do Rei) Quando a vontade de dominar se torna uma obsessão e o personagem passa a desejar mais e mais controle sobre seus subordinados, querendo ser um semideus e controlar o destino e vida dos outros. É capaz de fazer leis sem sentido apenas para demonstrar seu poder, e pode ser passivo-agressivo, geralmente deixando a pessoa cometer um erro para depois puni-la. Exemplos: Don Vito Corleone (Marlon Brando em O Poderoso Chefão), Don Michael Corleone (Al Pacino em O Poderoso Chefão - Parte II).

PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS FEMININOS (Victoria Lynn Schmidt):

1. A Musa Sedutora Mulher forte que sabe o que quer, de sexualidade aberta. Gosta de ser o centro das atenções, mas teme a rejeição. Exemplo: Cleópatra, Scarlett O'Hara (E o Vento Levou). 2. Femme Fatale (lado negro da Musa Sedutora) Usa suas qualidades, geralmente físicas, para controlar e manipular os homens. Seu corpo é uma arma. Exemplos: a figura da Femme Fatale foi praticamente criada por Barbara Stanwick no clássico noir Pacto de Sangue, onde ela interpreta Phyllis Dietrickson, seduzindo um vendedor de seguros com o objetivo de matar o seu marido. Outros bons exemplos são Catherine Tramell (Sharon Stone em Instinto Selvagem), Alex Forrest (Glenn Close em Atração Fatal), Elsa Bannister (Rita Hayworth em A Dama de Xangai), Madeleine Elster (Kim Novak em O Corpo que Cai). 3. A Amazona É a feminista, que possui um lado masculino tão forte quanto o feminino. Geralmente é apaixonada pela natureza e é selvagem, valorizabdo a liberdade. Prefere amizades femininas, mas por muitas vezes afastar as mulheres acaba tendo mais amigos homens. Exemplos: Xena a Princesa Guerreira (Lucy Lawless), Sarah Connor (Linda Hamilton em Exterminador do Futuro 2), Mulher Maravilha. 4. A Górgon (lado negro da Amazona) As Górgons na mitologia grega são as monstras com garras que transformam os seres vivos em pedra apenas com o olhar. A medusa seria uma górgon. É uma mulher agressiva, que age como uma ditadora e faz qualquer coisa para ajudar outra mulher. Possui uma fúria cega e insana. 5. A Filha do Pai É a mulher que luta para ser igual um homem, e provar que é tão boa quanto um (diferente da Amazona, que luta pela mulher e não se importa em se encaixar no mundo masculino). Sempre argumenta contra a causa feminina e fica ao lado dos homens, querendo ser "um deles". Vê as próprias mulheres como um sexo frágil. Exemplos: Dana Scully (Gillian Anderson em Arquivo X), Clarice Starling (Silêncio dos Inocentes por Thomas Harris), Elizabeth I (Cate Blanchett em Elizabeth). 6. A Traiçoeira (lado negro da Filha do Pai) Atropela os outros para atingir seus objetivos e quer chegar ao topo a qualquer custo, utilizando para isso sua inteligência. Se sente totalmente devastada por não poder fazer parte do grupo masculino que parte para a vingança. Exemplos: Margo Channing (Bette Davis em A Malvada), Miranda Priestly (Meryl Streep em O Diabo Veste Prada). 7. A Cuidadora É a mulher que tem o senso de obrigação de cuidar de alguém, colocando sempre os outros na sua frente. Geralmente possui uma profissão médica e normalmente não se importa muito com a moda e nem com a beleza (geralmente sua beleza está escondida). É o arquétipo da mãe e esposa protetora, mas que possui muitas fragilidades. Exemplos: Madre Teresa de Calcutá, Bela (de a Bela e a Fera). 8. Mãe hiper-controladora (lado negro da Cuidadora) Quando o desejo materno de proteger foge do controle. É a mãe que envenena o filho para poder depois cuidar dele. Provavelmente raptaria uma criança só para poder cuidar dela. É a mestra em infligir e impor culpa nos outros, apenas para que esses não saiam de casa e fiquem sob seus "cuidados". Pode estimular um complexo de inferioridade no filho. Pensa que os outros não podem viver sem ela quando na verdade ela é que não pode viver sozinha, exagera quando está machucada ou tem alguma necessidade, se fazendo sempre de vítima. Exemplos: Enfermeira Ratched (Louise Fletcher em Um Estranho no Ninho). 9. A Matriarca É a mulher que está no comando, muito forte, e comprometida, fiel e amorosa. Faz tudo para sua família e exige respeito. Nunca abandona a família e é a esposa perfeita e devota. O seu momento mais inesquecível é o dia do seu casamento. Exemplo: Aurora Greenway (Shirley MacLaine em Laços de Ternura). 10. A Desprezada (Lado negro da Matriarca) É a mulher que sofre abandono pela família mesmo fazendo de tudo por ela. Pode fazer de tudo para recuperar seu marido e o comando da situação, sempre achando que seu casamento tem solução. Se o marido tem uma amante, a culpa é da amante e não dele. 11. A Mística É a mulher de paz e misticismo, que ama ficar sozinha com seus pensamentos. Tem uma mente forte e escolheu uma vida espiritual ao invés de casamento ou desejos terrenos. É um espírito livre que vive em seu próprio mundo. Exemplos: Phoebe Buffay (Lisa Kudrow em Friends), Annie Hall (Diane Keaton em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) 12. A Traidora (lado negro da Mística) É a velhinha que envenena o marido, onde por trás de uma aparência bondosa se esconde grande maldade. Acredita que ninguém verá o seu lado verdadeiro. Geralmente causa enorme decepção para as pessoas em sua volta quando estas descobrem a verdade. 13. O Messias Feminino O Messias é o arquétipo de um andrógeno, e as versões masculinas e femininas são praticamente idênticas. São personagens que tem uma forte causa relacionada a um grupo amplo de pessoas. Essa causa não precisa ter necessariamente conexão com algo divino. Pode facilmente conter outros arquétipos. Tem uma força interior que nunca morre e sempre se sacrificará pelos outros. Exemplos: Joana D'Arc, Maria de Nazaré, Dama do Lago (Mitologia Arturiana), Galadriel (Senhor dos Anéis por J.R.R. Tolkien), Trinity (Carrie-Anne Moss em Matrix). 14. A Destruidora (lado negro do Messias Feminino) Não é uma vilã no sentido simples do termo. É uma vilã no sentido de proteger a qualquer custo o bem maior (como jogar bombas atômicas para acabar com a Guerra). Vê o mundo em preto e branco e muitas vezes provoca mais malefícios do que bondades. Humilha a pessoa para depois convertê-la a sua causa. 15. A Donzela Vive uma vida charmosa e alegre e não se preocupa com problemas dos dia-a-dia. É uma mulher que corre muitos riscos pois se acha invulnerável. Dificilmente se estressa. Pode ser uma mulher nos 40 que ainda age como uma garotinha, e no fundo não quer crescer, vivendo em um mundo onde casamento, filhos e responsabilidade não ocupam um lugar de destaque. Gosta de depender dos outros e adora variedade e festas. Exemplos: Lady Guinevere (Mitologia Arturiana), Sandra Dee (Olivia Newton John em Grease), Julieta (de Romeu e Julieta por William Shakespeare). 16. A Adolescente problema (lado negro da Donzela) Mulher fora de controle, obcecada com festas, drogas, sexo e fazendo tudo em excesso. Nunca aceita a responsabilidade pelos erros cometidos e não possui moral e ética. É depressiva, egoísta e invejosa. É irresponsável e se acha acima da lei.

CONCLUSÃO

Com os estudos desses arquétipos o escritor terá uma base inicial para começar a trabalhar com seus personagens. Escolher os arquétipos é apenas o processo inicial, pois a parte mais difícil é transformar essas poucas características em um personagem real e humano, com complexidades e contradições. É lógico que nem todos os personagens precisam ser tão complexos, e muitos são simples e estereotipados de propósito. Mas o autor sempre deve ter um olhar especial para evitar que um protagonista seja vazio e não provoque a identificação com a audiência. Bons estudos!
tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais
Além do Cotidiano
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Arquétipos para a

Construção de Personagens

Por Sandro Massarani Um dos processos mais comuns de criação de personagens está fortemente relacionado a utilização de arquétipos pelo autor. Basicamente, os arquétipos na escrita são modelos iniciais, contendo características básicas essenciais que formam o rascunho de uma determinada personalidade e que servem de ponto de partida para a elaboração de personagens. A utilização de arquétipos para estudar o homem vem desde Platão, o primeiro a utilizar o termo, e ganhou grande força com os estudos do psicólogo Carl Jung, que defendia a idéia do inconsciente coletivo na humanidade, ou seja, que os homens de diferentes sociedades possuem características comuns mesmo nunca estando em contato uns com os outros. Jung diz que todo ser humano tem cinco arquétipos principais (A Sombra, A Anima, O Animus, A Persona, O Eu) que se combinam formando seu caráter. Muitos teóricos, não só da narrativa, mas também da sociologia e antropologia, vão avançar os estudos dos arquétipos, buscando cada um a seu modo, definir quais seriam as "personalidades padrão" de todo homem. Abaixo, descreverei de maneira breve os principais arquétipos definidos por Vyctoria Lynn Schmidt em seu livro 45 Masters Characters. São 8 arquétipos masculinos e 8 femininos, cada um com seu "lado negro", totalizando os 32. Deixei de fora os arquétipos secundários pois eles são apenas derivados dos arquétipos principais. É um dos melhores estudos sobre o assunto. É bom notarmos que utilizar um arquétipo de "lado negro" e obter a simpatia da audiência é uma tarefa complicada, mas que se for bem sucedida trará bons frutos para a obra. É o caso da audiência estabelecer forte laços com vilões máximos como Darth Vader e Hannibal Lecter. Nem todos os escritores são favoráveis a utilização de arquétipos. Um dos principais problemas na utilização desse sistema é o autor criar personagens estereotipados, ou seja, caricatos, simples, sem complexidades, baseados em clichès. Logo, um personagem realista geralmente é baseado em mais de um arquétipo, se tornando mais complexo. Devemos sempre lembrar que não há nenhuma regra rígida e que podemos criar um personagem masculino usando apenas os arquétipos femininos. Os arquétipos também são totalmente abertos a interpretações e depois do personagem pronto pode ficar difícil determinarmos o arquétipo dele! Na verdade, a minha opinião é a de que devemos estudar e praticar bastante o assunto para o processo de criação se tornar cada vez mais natural e intuitivo, sem depender de listas e classificações.

PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS MASCULINOS

1. O Homem de Negócios O homem de negócios é aquele que é viciado em trabalho, vendo o sucesso como prioridade em detrimento de amizades. Geralmente é racional, utilizando constantemente a lógica, tendo necessidade de ver tudo organizado. Como passa mais tempo na sua vida profissional do que familiar, não dá um bom marido ou pai. Usa regras e ordens para evitar seus sentimentos. É o arquétipo clássico do detetive. Exemplos: Sherlock Holmes, Dr. Spock (Jornada nas Estrelas), Hercule Poirot (Agatha Christie), Tio Patinhas. 2. O Traidor (lado negro do Homem de Negócios) Quando o Homem de Negócios cruza os limites e passa a ter sede de poder. Só enxerga o trabalho, gosta de humilhar e manipular as pessoas, vendo-as como simples peças em um tabuleiro. Muitas vezes acredita estar fazendo o certo. Exemplo: Ebenezer Scrooge (Um Conto de Natal de Charles Dickens). 3. O Protetor É aquele que busca proteger todos que estão em sua volta, e que deseja viver em uma redoma protegida. Pode explodir a qualquer momento e vive mais de acordo com seu corpo do que sua cabeça. Procura fazer as mulheres se sentirem especiais. Exemplos: Super-Homem, Rocky Balboa, John Mclane (Duro de Matar). 4. O Gladiador (lado negro do Protetor) É aquele que não sente prazer em proteger, mas sim em destruir, tendo ganância e desejo de sangue. Possui um comportamento altamente impulsivo e imprevisível, não se importando com nada ao seu redor. A vida pode se assemelhar a um jogo. Exemplo: Tony Montana (Scarface). 5. O Recluso É o arquétipo de quem gosta de ficar sozinho, não se sentindo a vontade na presença de muitas pessoas. Pode ter uma vida interior privilegiada e um espírito criativo, que utilizado de forma exagerada leva o personagem a se perder em suas próprias fantasias. Passa horas lendo, estudando e analisando idéias, tendo como motivação o conhecimento. Seus relacionamentos geralmente são direcionados pela mulher, líder da relação. Exemplo: Fox Mulder (Arquivo X), Victor Frankenstein, Dr. Jekyll. 6. O Bruxo (lado negro do Recluso) Busca o conhecimento para fazer o mal aos outros e ao ambiente, sendo altamente egoísta. O extremo do solitário, buscando evitar pessoas. Exemplos: Drácula, Dr. Hannibal Lecter (Silêncio dos Inocentes). 7 . O Tolo É um homem que por dentro ainda é um menino, tendo um ótimo relacionamento com crianças pois possuem várias semelhanças. Ama piadas, e faz amigos por onde passa. Muitas vezes age com inconsequência, pois está sempre buscando viver o agora, sendo um espírito livre. Adora ser o centro das atenções. Exemplos: Joey Tribbiani (Matt Leblanc em Friends), Cosmo Kramer (Michael Richards em Seinfeld). 8. O Abandonado (Lado negro do Tolo) É o mendigo, vagabundo ou ladrão que fica nas ruas. Geralmente é o homem da lábia que convence e manipula. Se os seus pais forem de uma condição social elevada isso pode ser um grave problema, pois se torna arrogante e acha que está acima da lei. Exemplo: Randle Patrick (Jack Nicholson em Um Estranho no Ninho). 9. O Homem das Mulheres Ama as mulheres e qualquer coisa relacionada a elas. Possui fortes amizades femininas e enxerga a mulher como igual ou superior, vendo extrema beleza em todas elas. Muitas vezes não se dá bem com homens mas não liga pra isso. Pode ser afeminado ou não. Exemplos: Shakespeare (Joseph Fiennes em Shakespeare Apaixonado), Jack Dawson (Leonardo DiCaprio em Titanic). 10. O Sedutor (lado negro do Homem das Mulheres) É aquele que vive para arruinar a vida das mulheres. Pode possuir obsessão em relação a uma mulher que não lhe dá atenção e gosta de destruir corações, pisoteando sentimentos após a conquista. 11. O Messias Masculino Aquele que possui uma forte causa, muitas vezes divina. Pode ter características andrógenas e absorver facilmente qualquer outro arquétipo. Exemplo: Jesus Cristo, Luke Skywalker (Guerra nas Estrelas), Neo (Matrix), Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Robin Hood, William Wallace (Coração Valente). 12. O Justiceiro (lado negro do Messias Masculino) Sua palavra é a lei, porém não é um vilão no sentido de ganhos pessoais pois acredita que está fazendo o melhor para seus seguidores. Gosta de quebrar o ego das pessoas e humilhá-las para depois convertê-las. Exemplo: Charles Kane (Orson Welles em Cidadão Kane), Darth Vader (Guerra nas Estrelas). 13. O Artista Está sempre em contato com suas emoções, canalizando-as para algo criativo, mas muitas vezes não as controla, podendo explodir, afetando quem estiver em sua volta. Não é bom administrador e depende de alguém para ajudá-lo. Geralmente é inseguro e demonstra constantemente sua insatisfação, se importando com o que os outros pensam dele. Exemplo: Vincent Van Gogh, Mozart (Tim Hulce em Amadeus). 14. O Abusado (Lado negro do Artista) Quando o Artista não consegue controlar suas emoções se tornando uma pessoa volátil e extremamente vingativa, ultrapassa todos os limites descontando sua frustração em todos ao redor. É o homem que espanca a mulher e logo em seguida envia flores com pedidos de desculpa. 15. O Rei É aquele que necessita de um "reino" para controlar. Geralmente é um político ou um chefe, vivendo em excesso. Ama dominar. Não consegue enxergar todo o problema e ignora os detalhes e as emoções. Quando fracassa busca preencher o vazio com bebidas e sexo. Exemplos: Rei Artur, Júlio César. 16. O Ditador (lado negro do Rei) Quando a vontade de dominar se torna uma obsessão e o personagem passa a desejar mais e mais controle sobre seus subordinados, querendo ser um semideus e controlar o destino e vida dos outros. É capaz de fazer leis sem sentido apenas para demonstrar seu poder, e pode ser passivo-agressivo, geralmente deixando a pessoa cometer um erro para depois puni- la. Exemplos: Don Vito Corleone (Marlon Brando em O Poderoso Chefão), Don Michael Corleone (Al Pacino em O Poderoso Chefão - Parte II).

PRINCIPAIS ARQUÉTIPOS FEMININOS

1. A Musa Sedutora Mulher forte que sabe o que quer, de sexualidade aberta. Gosta de ser o centro das atenções, mas teme a rejeição. Exemplo: Cleópatra, Scarlett O'Hara (E o Vento Levou). 2. Femme Fatale (lado negro da Musa Sedutora) Usa suas qualidades, geralmente físicas, para controlar e manipular os homens. Seu corpo é uma arma. Exemplos: a figura da Femme Fatale foi praticamente criada por Barbara Stanwick no clássico noir Pacto de Sangue, onde ela interpreta Phyllis Dietrickson, seduzindo um vendedor de seguros com o objetivo de matar o seu marido. Outros bons exemplos são Catherine Tramell (Sharon Stone em Instinto Selvagem), Alex Forrest (Glenn Close em Atração Fatal), Elsa Bannister (Rita Hayworth em A Dama de Xangai), Madeleine Elster (Kim Novak em O Corpo que Cai). 3. A Amazona É a feminista, que possui um lado masculino tão forte quanto o feminino. Geralmente é apaixonada pela natureza e é selvagem, valorizabdo a liberdade. Prefere amizades femininas, mas por muitas vezes afastar as mulheres acaba tendo mais amigos homens. Exemplos: Xena a Princesa Guerreira (Lucy Lawless), Sarah Connor (Linda Hamilton em Exterminador do Futuro 2), Mulher Maravilha. 4. A Górgon (lado negro da Amazona) As Górgons na mitologia grega são as monstras com garras que transformam os seres vivos em pedra apenas com o olhar. A medusa seria uma górgon. É uma mulher agressiva, que age como uma ditadora e faz qualquer coisa para ajudar outra mulher. Possui uma fúria cega e insana. 5. A Filha do Pai É a mulher que luta para ser igual um homem, e provar que é tão boa quanto um (diferente da Amazona, que luta pela mulher e não se importa em se encaixar no mundo masculino). Sempre argumenta contra a causa feminina e fica ao lado dos homens, querendo ser "um deles". Vê as próprias mulheres como um sexo frágil. Exemplos: Dana Scully (Gillian Anderson em Arquivo X), Clarice Starling (Silêncio dos Inocentes por Thomas Harris), Elizabeth I (Cate Blanchett em Elizabeth). 6. A Traiçoeira (lado negro da Filha do Pai) Atropela os outros para atingir seus objetivos e quer chegar ao topo a qualquer custo, utilizando para isso sua inteligência. Se sente totalmente devastada por não poder fazer parte do grupo masculino que parte para a vingança. Exemplos: Margo Channing (Bette Davis em A Malvada), Miranda Priestly (Meryl Streep em O Diabo Veste Prada). 7. A Cuidadora É a mulher que tem o senso de obrigação de cuidar de alguém, colocando sempre os outros na sua frente. Geralmente possui uma profissão médica e normalmente não se importa muito com a moda e nem com a beleza (geralmente sua beleza está escondida). É o arquétipo da mãe e esposa protetora, mas que possui muitas fragilidades. Exemplos: Madre Teresa de Calcutá, Bela (de a Bela e a Fera). 8. Mãe hiper-controladora (lado negro da Cuidadora) Quando o desejo materno de proteger foge do controle. É a mãe que envenena o filho para poder depois cuidar dele. Provavelmente raptaria uma criança só para poder cuidar dela. É a mestra em infligir e impor culpa nos outros, apenas para que esses não saiam de casa e fiquem sob seus "cuidados". Pode estimular um complexo de inferioridade no filho. Pensa que os outros não podem viver sem ela quando na verdade ela é que não pode viver sozinha, exagera quando está machucada ou tem alguma necessidade, se fazendo sempre de vítima. Exemplos: Enfermeira Ratched (Louise Fletcher em Um Estranho no Ninho). 9. A Matriarca É a mulher que está no comando, muito forte, e comprometida, fiel e amorosa. Faz tudo para sua família e exige respeito. Nunca abandona a família e é a esposa perfeita e devota. O seu momento mais inesquecível é o dia do seu casamento. Exemplo: Aurora Greenway (Shirley MacLaine em Laços de Ternura). 10. A Desprezada (Lado negro da Matriarca) É a mulher que sofre abandono pela família mesmo fazendo de tudo por ela. Pode fazer de tudo para recuperar seu marido e o comando da situação, sempre achando que seu casamento tem solução. Se o marido tem uma amante, a culpa é da amante e não dele. 11. A Mística É a mulher de paz e misticismo, que ama ficar sozinha com seus pensamentos. Tem uma mente forte e escolheu uma vida espiritual ao invés de casamento ou desejos terrenos. É um espírito livre que vive em seu próprio mundo. Exemplos: Phoebe Buffay (Lisa Kudrow em Friends), Annie Hall (Diane Keaton em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) 12. A Traidora (lado negro da Mística) É a velhinha que envenena o marido, onde por trás de uma aparência bondosa se esconde grande maldade. Acredita que ninguém verá o seu lado verdadeiro. Geralmente causa enorme decepção para as pessoas em sua volta quando estas descobrem a verdade. 13. O Messias Feminino O Messias é o arquétipo de um andrógeno, e as versões masculinas e femininas são praticamente idênticas. São personagens que tem uma forte causa relacionada a um grupo amplo de pessoas. Essa causa não precisa ter necessariamente conexão com algo divino. Pode facilmente conter outros arquétipos. Tem uma força interior que nunca morre e sempre se sacrificará pelos outros. Exemplos: Joana D'Arc, Maria de Nazaré, Dama do Lago (Mitologia Arturiana), Galadriel (Senhor dos Anéis por J.R.R. Tolkien), Trinity (Carrie-Anne Moss em Matrix). 14. A Destruidora (lado negro do Messias Feminino) Não é uma vilã no sentido simples do termo. É uma vilã no sentido de proteger a qualquer custo o bem maior (como jogar bombas atômicas para acabar com a Guerra). Vê o mundo em preto e branco e muitas vezes provoca mais malefícios do que bondades. Humilha a pessoa para depois convertê-la a sua causa. 15. A Donzela Vive uma vida charmosa e alegre e não se preocupa com problemas dos dia-a-dia. É uma mulher que corre muitos riscos pois se acha invulnerável. Dificilmente se estressa. Pode ser uma mulher nos 40 que ainda age como uma garotinha, e no fundo não quer crescer, vivendo em um mundo onde casamento, filhos e responsabilidade não ocupam um lugar de destaque. Gosta de depender dos outros e adora variedade e festas. Exemplos: Lady Guinevere (Mitologia Arturiana), Sandra Dee (Olivia Newton John em Grease), Julieta (de Romeu e Julieta por William Shakespeare). 16. A Adolescente problema (lado negro da Donzela) Mulher fora de controle, obcecada com festas, drogas, sexo e fazendo tudo em excesso. Nunca aceita a responsabilidade pelos erros cometidos e não possui moral e ética. É depressiva, egoísta e invejosa. É irresponsável e se acha acima da lei.

CONCLUSÃO

Com os estudos desses arquétipos o escritor terá uma base inicial para começar a trabalhar com seus personagens. Escolher os arquétipos é apenas o processo inicial, pois a parte mais difícil é transformar essas poucas características em um personagem real e humano, com complexidades e contradições. É lógico que nem todos os personagens precisam ser tão complexos, e muitos são simples e estereotipados de propósito. Mas o autor sempre deve ter um olhar especial para evitar que um protagonista seja vazio e não provoque a identificação com a audiência. Bons estudos!