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  Por Sandro Massarani
  Nome: Muito Além do Jardim
  Rating: 9 / 10
  Nome Original: Being There
  Ano: 1979
  País: Estados Unidos
  Cor: Colorido
  Duração: 130 min.
  Dirigido por: Hal Ashby
  Escrito por: Jerzy Kosinski, Robert C. Jones
  Estrelado por: Peter Sellers, Melvyn Douglas, Shirley Maclaine, Jack Warden, 
  Richard Dysart
  "Eu gosto de assistir".
  Enredo:
  Um jardineiro de inteligência bem limitada, cujo todo conhecimento provém de 
  seu jardim e de programas de televisão, se vê obrigado a sair da casa onde 
  morou toda a vida depois da morte do patrão. Por capricho do destino, acaba se 
  envolvendo com pessoas poderosas de Washington, inclusive o próprio 
  presidente dos Estados Unidos, e torna-se uma celebridade nacional.
  Histórico:
  Com o rápido desenvolvimento dos meios de comunicação ocorrido 
  principalmente no século XX, as formas de absorção de conhecimento por parte 
  de um indivíduo se alteraram drásticamente. Hoje, a mídia tem grande poder de 
  influência na formação de um cidadão, acabando por modificar “estruturas 
  tradicionais” como a família, a escola e a igreja. Esse poder da mídia está 
  intimamente ligado ao sistema capitalista e interesses financeiros, o que tornou 
  a propaganda um dos pilares da economia.
  O jardineiro Chance é o símbolo da nossa sociedade atual, controlada pelos 
  meios de comunicação. Ele nunca saiu de sua casa e passa todo o seu tempo ou 
  cuidando do jardim ou assistindo televisão. Quando seu patrão morre e ele vai 
  para a rua, acaba tendo que se virar em um mundo só antes vislumbrado 
  através da tela da TV. Ao ser atropelado pelo carro da esposa de um grande 
  empresário, Chance acaba se envolvendo com a elite política norte-americana. 
  Ele não compreende as perguntas que recebe, e suas respostas são baseadas 
  apenas no seu conhecimento de jardinagem. Como Chance é branco, bem 
  vestido e suas escolhas de palavras remontam uma época mais antiga, ele é tido 
  como um grande filósofo e pensador. Aí está o centro do filme. É uma sociedade 
  de aparências e discursos rápidos, pois hoje em dia ninguém possui tempo nem 
  para falar e nem para escutar. Bastam algumas frases de efeito.
  Muito Além do Jardim é baseado no romance lançado em 1971 por Jerzy Kosinski. 
  Sellers, ao ler o livro, viu uma grande oportunidade de mostrar suas qualidades 
  como ator, já que sua imagem estava na época muito vinculada a filmes de 
  comédia, principalmente por causa do grande sucesso do seu inspetor Clouseau 
  da série Pantera Cor de Rosa. Este seria o seu penúltimo filme, e apesar de ter 
  sido lembrado com uma indicação para o Oscar, sua derrota na premiação é 
  uma das grandes injustiças da academia. A estatueta acabou indo para Dustin 
  Hoffmann pelo seu papel em Kramer vs Kramer, um típico e previsível drama 
  familiar, só que bem executado.
  O filme foi dirigido por Hal Ashby, que é muito pouco lembrado atualmente. 
  Ashby foi o responsável pela edição premiada de No Calor da Noite (1967), dirigiu 
  o sucesso Amargo Regresso (1978), e era conhecido por gravar mais de vinte 
  takes de cada cena. Ele Teve relativo sucesso nos anos 70, só que acabou sendo 
  "esquecido" pelos meios de comunicação que ele tanto criticou. Muito Além do 
  Jardim só foi indicado para dois Oscars, o de ator (Sellers) e ator coadjuvante, 
  que acabou premiando Melvyn Douglas. Muito pouco para uma obra que foi 
  com louvor aprovada no teste do tempo.
  Infelizmente, no mundo real, não há controle remoto para mudarmos de canal e 
  escolhermos a programação.
  Prós:
  - Uma das melhores críticas à sociedade já retratadas em um filme. Mostra 
  claramente o poder assustador da mídia e de como um discurso curto e 
  ambíguo aliado a conexões poderosas controlam a política mundial. Esse tipo 
  de filme, quando bem realizado, pode causar profundas mudanças no 
  pensamento social retirando as pessoas da alienação que se encontram. Pena 
  que é muito pouco valorizado.
  - Diálogos bem construídos, que utilizam com eficácia o duplo sentido.
  - Peter Sellers nos dá uma das melhores atuações já mostradas em tela, é 
  praticamente perfeita e lendária. Melvyn Douglas também está impecável.
  - A cena final, que dá margens para infinitas interpretações.
  Contras:
  - É um filme com muitas coincidências, onde tudo acontece de maneira muito 
  rápida, ficando um pouco forçado. Sempre temos que diferenciar a realidade da 
  ficção. No mundo real, as coincidências acontecem o tempo todo, todos os dias, 
  mais do que a gente imagina. Porém, em uma obra de ficção, as coincidências 
  não podem ser gritantes e comuns, os fatos devem ter uma razão e um motivo 
  forte para tomar forma. A Ficção deve ser mais coerente que a realidade, senão 
  o fio da narrativa se desmancha. O filme só não é muito prejudicado por isso 
  pois esssas liberdades foram tomadas de forma consciente, já que se trata de 
  uma sátira, agindo para fortalecer ainda mais a crítica voraz à sociedade.
  - A atuação de Shirley Maclaine deveria se manter em um tom mais sério. Em 
  algumas ocasiões sua atuação apela para uma comédia exgerada. 
  Provavelmente não foi somente culpa da atriz, mas muitas de suas cenas pecam 
  por isso.
  - Por que após uma cena tão impactante quanto a cena final, os créditos são 
  mostrados junto com erros de gravação? Para retratar a artificialidade da 
  sociedade? Totalmente desnecessário e ainda altera a última sensação que o 
  espectador tem ao acabar o filme.
  Devo Assistir ?
  É um retrato cruel e fiel do mundo do espetáculo, da propaganda, da influência 
  da mídia na sociedade. Se todos tivessem um pensamento crítico em relação 
  aos problemas apresentados no filme, o mundo com certeza seria um lugar de 
  mais bom senso e respeito. Obrigatório.
 
 
  tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais
 
 
  
  
 