Matar ou Morrer (1952)

Por Sandro Massarani Nome: Matar ou Morrer Rating: 10 / 10 Nome Original: High Noon Ano: 1952 País: E.U.A Cor: Preto e Branco Duração: 84 min. Dirigido por: Fred Zinnemann Escrito por: John Cunningham (História), Carl Foreman (Roteiro). Estrelado por: Gary Cooper, Grace Kelly, Katy Jurado, Ian Macdonald, Lloyd Bridges, Lee Van Cleef "Você é um menino de boa aparência. Tem grandes, largos ombros. Mas ele é um homem. E é preciso mais que grandes e largos ombros para ser um homem." Enredo: Um xerife recém casado se sente obrigado a retomar o posto no minuto que se aposenta, para defender a cidade do retorno de um criminoso que chegará de trem ao meio-dia buscando vingança pessoal. Porém, ele deverá fazer isso sozinho, já que praticamente toda a cidade e os seus supostos amigos decidem não apoiá-lo. Histórico: Talvez o maior faroeste já feito e com certeza o mais complexo, Matar ou Morrer não é um filme sobre tiros, sangue, romances superficiais, heróis e vilões caricatos. É sobre o homem, sua natureza, sua forma de agir e sua busca primordial por segurança. Provoca reações diversas, chegando a ser visto muitas vezes como um anti-faroeste. Pode ser que seja mera coincidência, mas é um faroeste dirigido com maestria não por um norte-americano mas por um judeu austríaco (Zinemann), o que pode ter contribuído para alterar as raízes tradicionais do gênero. O escritor Carl Foreman queria também dirigir o filme, mas seu comportamento não era amigável em relação ao Macarthismo, política de perseguição à suspeitos de serem comunistas (era o auge da Guerra Fria) o que afastou suas chances atrás das câmeras. Pode inclusive haver um relacionamento entre o abandono que Cooper sofre no filme com o abandono e a traição que ocorria na época da paranóia da "caça" aos "anti-americanos". Foreman ajudou a produzir o filme, mas seu nome não pôde constar nos créditos, já que ele entrou na lista negra do governo e teve que se exilar em Londres. O escritor teria um retorno triunfante com o roteiro de A Ponte do Rio Kwai em 1957. Cooper faz provavelmente seu melhor filme, e o curioso é que ele estava realmente sofrendo nas filmagens, com fortes dores provocadas por uma úlcera e por problemas nas costelas. A futura princesa Grace Kelly tem aqui o seu primeiro papel principal. Matar ou Morrer foi indicado para sete Oscars, vencendo quatro: Ator (Cooper), Edição, Trilha Sonora e Canção. Prós: - Gary Cooper interpreta um dos maiores heróis da história do cinema. Um homem com dúvidas, ansiedades e medos. Um verdadeiro herói. Atuação também destacada de Katy Jurado. - É um retrato cruel da “natureza” humana. Os "vilões" são mais leais entre si do que os "heróis". A cena que um bandido é bem recepcionado no bar reflete de maneira cristalina a fragilidade dos homens e o porquê de nossa decadência. - Abundância de personagens complexos e multi-dimensionais. Não é um faroeste comum, é um filme maduro e atípico. - Edição soberba, sempre mantendo o foco no relógio, aumentando gradativamente a tensão. É um filme que utiliza todas as suas cenas em favor da história. A obra é mostrada praticamente em tempo real, ligando-se com o tempo que resta para a chegada do trem. - A fotografia em preto e branco. Basta ver a imagem dos trilhos vazios, calmamente aguardando o pior acontecer. - A canção título, para quem gosta de música country, feita especialmente para o filme. Contras: - Atuação fraca e pouco emotiva de Grace Kelly, que acaba ofuscada pela coadjuvante Jurado. Devo Assistir ? É uma daquelas raras obras que faz você se tornar uma pessoa melhor, ou pelo menos pensar a respeito. Obrigatório.
tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais
Além do Cotidiano
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Matar ou Morrer (1952)

Por Sandro Massarani Nome: Matar ou Morrer Rating: 10 / 10 Nome Original: High Noon Ano: 1952 País: E.U.A Cor: Preto e Branco Duração: 84 min. Dirigido por: Fred Zinnemann Escrito por: John Cunningham (História), Carl Foreman (Roteiro). Estrelado por: Gary Cooper, Grace Kelly, Katy Jurado, Ian Macdonald, Lloyd Bridges, Lee Van Cleef "Você é um menino de boa aparência. Tem grandes, largos ombros. Mas ele é um homem. E é preciso mais que grandes e largos ombros para ser um homem." Enredo: Um xerife recém casado se sente obrigado a retomar o posto no minuto que se aposenta, para defender a cidade do retorno de um criminoso que chegará de trem ao meio-dia buscando vingança pessoal. Porém, ele deverá fazer isso sozinho, já que praticamente toda a cidade e os seus supostos amigos decidem não apoiá-lo. Histórico: Talvez o maior faroeste já feito e com certeza o mais complexo, Matar ou Morrer não é um filme sobre tiros, sangue, romances superficiais, heróis e vilões caricatos. É sobre o homem, sua natureza, sua forma de agir e sua busca primordial por segurança. Provoca reações diversas, chegando a ser visto muitas vezes como um anti-faroeste. Pode ser que seja mera coincidência, mas é um faroeste dirigido com maestria não por um norte- americano mas por um judeu austríaco (Zinemann), o que pode ter contribuído para alterar as raízes tradicionais do gênero. O escritor Carl Foreman queria também dirigir o filme, mas seu comportamento não era amigável em relação ao Macarthismo, política de perseguição à suspeitos de serem comunistas (era o auge da Guerra Fria) o que afastou suas chances atrás das câmeras. Pode inclusive haver um relacionamento entre o abandono que Cooper sofre no filme com o abandono e a traição que ocorria na época da paranóia da "caça" aos "anti-americanos". Foreman ajudou a produzir o filme, mas seu nome não pôde constar nos créditos, já que ele entrou na lista negra do governo e teve que se exilar em Londres. O escritor teria um retorno triunfante com o roteiro de A Ponte do Rio Kwai em 1957. Cooper faz provavelmente seu melhor filme, e o curioso é que ele estava realmente sofrendo nas filmagens, com fortes dores provocadas por uma úlcera e por problemas nas costelas. A futura princesa Grace Kelly tem aqui o seu primeiro papel principal. Matar ou Morrer foi indicado para sete Oscars, vencendo quatro: Ator (Cooper), Edição, Trilha Sonora e Canção. Prós: - Gary Cooper interpreta um dos maiores heróis da história do cinema. Um homem com dúvidas, ansiedades e medos. Um verdadeiro herói. Atuação também destacada de Katy Jurado. - É um retrato cruel da “natureza” humana. Os "vilões" são mais leais entre si do que os "heróis". A cena que um bandido é bem recepcionado no bar reflete de maneira cristalina a fragilidade dos homens e o porquê de nossa decadência. - Abundância de personagens complexos e multi- dimensionais. Não é um faroeste comum, é um filme maduro e atípico. - Edição soberba, sempre mantendo o foco no relógio, aumentando gradativamente a tensão. É um filme que utiliza todas as suas cenas em favor da história. A obra é mostrada praticamente em tempo real, ligando-se com o tempo que resta para a chegada do trem. - A fotografia em preto e branco. Basta ver a imagem dos trilhos vazios, calmamente aguardando o pior acontecer. - A canção título, para quem gosta de música country, feita especialmente para o filme. Contras: - Atuação fraca e pouco emotiva de Grace Kelly, que acaba ofuscada pela coadjuvante Jurado. Devo Assistir ? É uma daquelas raras obras que faz você se tornar uma pessoa melhor, ou pelo menos pensar a respeito. Obrigatório.