El Mariachi (1992)

Por Sandro Massarani Nome: El Mariachi Rating: 7 / 10 Nome Original: El Mariachi Ano: 1992 País: EUA Cor: Colorido Duração: 81 min. Dirigido por: Robert Rodriguez Escrito por: Robert Rodriguez Estrelado por: Carlos Gallardo, Consuelo Gómez, Reinol Martínez, Peter Marquardt, Jaime de Hoyos "Tudo o que eu queria era ser um mariachi, como meus antepassados". Enredo: Um tocador de violão (um mariachi), é perseguido por ser confundido com pistoleiro recém escapado da prisão e que deseja matar seu antigo parceiro, um influente traficante de drogas na pequena cidade de Acuña no México. O filme foi feito com apenas US$7,225. Histórico: Fazer um filme é algo complicado e difícil, isso é fato. Fazer um filme razoável quase que sem dinheiro é algo ainda mais incomum, bastando para isso ver grande parte do nosso cinema nacional. Robert Rodriguez, com apenas 23 anos e US$7,225, conseguiu em 1992 mostrar para o mundo como sua criatividade conseguiu romper com o orçamento reduzidíssimo que possuía. Rodriguez conseguiu levantar a quantia de US$9,000 (principalmente sendo cobaia de laboratório), que é praticamente o mesmo que nada quando se trata de fazer uma obra cinematográfica. Com pouco dinheiro, o mais comum era o diretor criar uma obra densa, com tomadas longas e baseadas em diálogos filosóficos. Porém, Rodriguez fez exatamente o oposto. Ele se aventurou a criar um filme de ação. Com atores amadores que também agiam como equipe de filmagem e suporte, filmando diretamente no local, com iluminação mínima e dando pausa na câmera para que o ângulo de filmagem pudesse ser modificado, o jovem diretor fez El Mariachi, que inicialmente seria lançado diretamente em vídeo para o mercado espanhol, mas que acabou chamando a atenção de executivos da Columbia Pictures, que resolveram arriscar, lançando-o em escala internacional. Somente para tornar o filme compatível com as telas de cinema, transferindo a película de 16mm para 35mm, a Columbia gastou inúmeras vezes o valor inicial de El Mariachi. Logo, a versão que nós temos acesso é uma versão polida e bem tratada da Columbia, mas que não tira de forma alguma o mérito do filme. A estratégia de marketing, agressiva e enfatizando a proeza de Rodriguez, aliada a inegável qualidade da obra, deu certo, e o retorno foi extremamente satisfatório. Com o sucesso, Rodriguez teria mais dinheiro e faria duas sequências claramente inferiores, Balada do Pistoleiro (Desperado, 1995), e Era Uma Vez no México (Once Upon a Time in Mexico, 2003), ambas com Antonio Banderas e Salma Hayek. De fato, às vezes o criador se sai melhor quando há limites e ele precisa buscar soluções e alternativas. El Mariachi não é uma obra revolucionária devido ao seu conteúdo final. Não há nada de inovador no filme. O seu valor vem de como o diretor conseguiu ultrapassar os obstáculos e criar algo interessante e duradouro. São lições simples mas que funcionam, as de nunca desistir, e de que o talento e o conhecimento podem sempre conseguir um espaço. Prós: - Fazer um filme bem estruturado, com base sólida, belas imagens, som decente, atuações aceitáveis, edição de alto nível e uma história pelo menos interessante com apenas US$7,225 é um feito notável e realmente merece todos os aplausos. Um exemplo a ser seguido para quem quer realizar obras comerciais de ação e aventura. - Melhor que muitos filmes de ação com mil vezes seu orçamento. Possui uma característica fundamental: não é uma obra artificial. A paixão de sua construção fica clara. - A edição de ritmo acelerado, câmera nervosa com cortes e zooms rápidos, imagens velozes, ângulos interessantes e constantes close-ups, faz com que o filme mantenha sua tensão e suspense e o observador não tenha chance de reparar seu aspecto amador. - As cenas de ação são bem filmadas, mesmo que às vezes possam ser um pouco confusas. Fazer isso com uma só câmera requer uma edição primorosa, que foi o que de fato aconteceu. - Com exceção do Mariachi, os personagens do filme, inclusive os que pouco são vistos, parecem ter cada um uma individualidade especial. Não são personagens desenvolvidos e complexos, mas às vezes parecem ser maiores do que a tela. O uso de close-ups e cortes rápidos contribuiu para enfatizar esses rostos e tipos incomuns. Contras: - Carlos Gallardo, o Mariachi, carece de carisma, parecendo mais um personagem comum. Sei que muitos diretores gostam de personagens "comuns", do cotidiano. Mas o que o Mariachi faz durante todo o filme não pede um ator de aparência comum e sem apelo. Mesmo que suas mudanças ao longo do filme sejam radicais (arco do personagem), praticamente todos os outros personagens presentes são mais interessantes do que ele. Porém, devo fazer a ressalva que Antonio Banderas, utilizado por Rodriguez nas continuações, é muito, mas muito pior que o Gallardo. - Não há como criticar nada do filme em relação a parte técnica, seria realmente irrelevante e até ofensivo. Mas há algumas falhas graves no roteiro, principalmente em relação a motivação e consistência dos personagens, e aí não importa o orçamento. Os personagens parecem não temer a morte. O Mariachi age de forma muito calma e racional quando perseguido, mesmo na primeira vez que isso acontece, e nem tenta fugir da cidade. Sua relação com a dona do bar é um pouco artificial, e poderia ser melhor trabalhada. São falhas comuns em quase todos os filmes de ação e que poderiam ser corrigidas, contribuindo ainda mais para o status do filme. Devo Assistir ? Não é um filme que terá muito impacto para o cinéfilo casual, pois se não considerarmos seu custo reduzido, é um filme apenas um pouco acima da média (o que já é muito comparado com a quantidade de filmes descartáveis existente). É obrigatório para o estudante de cinema e para o interessado na construção de narrativas, pois é talvez o melhor exemplo do que a criatividade pode fazer com orçamento limitado.
tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais
Além do Cotidiano
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El Mariachi (1992)

Por Sandro Massarani Nome: El Mariachi Rating: 7 / 10 Nome Original: El Mariachi Ano: 1992 País: EUA Cor: Colorido Duração: 81 min. Dirigido por: Robert Rodriguez Escrito por: Robert Rodriguez Estrelado por: Carlos Gallardo, Consuelo Gómez, Reinol Martínez, Peter Marquardt, Jaime de Hoyos "Tudo o que eu queria era ser um mariachi, como meus antepassados". Enredo: Um tocador de violão (um mariachi), é perseguido por ser confundido com pistoleiro recém escapado da prisão e que deseja matar seu antigo parceiro, um influente traficante de drogas na pequena cidade de Acuña no México. O filme foi feito com apenas US$7,225. Histórico: Fazer um filme é algo complicado e difícil, isso é fato. Fazer um filme razoável quase que sem dinheiro é algo ainda mais incomum, bastando para isso ver grande parte do nosso cinema nacional. Robert Rodriguez, com apenas 23 anos e US$7,225, conseguiu em 1992 mostrar para o mundo como sua criatividade conseguiu romper com o orçamento reduzidíssimo que possuía. Rodriguez conseguiu levantar a quantia de US$9,000 (principalmente sendo cobaia de laboratório), que é praticamente o mesmo que nada quando se trata de fazer uma obra cinematográfica. Com pouco dinheiro, o mais comum era o diretor criar uma obra densa, com tomadas longas e baseadas em diálogos filosóficos. Porém, Rodriguez fez exatamente o oposto. Ele se aventurou a criar um filme de ação. Com atores amadores que também agiam como equipe de filmagem e suporte, filmando diretamente no local, com iluminação mínima e dando pausa na câmera para que o ângulo de filmagem pudesse ser modificado, o jovem diretor fez El Mariachi, que inicialmente seria lançado diretamente em vídeo para o mercado espanhol, mas que acabou chamando a atenção de executivos da Columbia Pictures, que resolveram arriscar, lançando-o em escala internacional. Somente para tornar o filme compatível com as telas de cinema, transferindo a película de 16mm para 35mm, a Columbia gastou inúmeras vezes o valor inicial de El Mariachi. Logo, a versão que nós temos acesso é uma versão polida e bem tratada da Columbia, mas que não tira de forma alguma o mérito do filme. A estratégia de marketing, agressiva e enfatizando a proeza de Rodriguez, aliada a inegável qualidade da obra, deu certo, e o retorno foi extremamente satisfatório. Com o sucesso, Rodriguez teria mais dinheiro e faria duas sequências claramente inferiores, Balada do Pistoleiro (Desperado, 1995), e Era Uma Vez no México (Once Upon a Time in Mexico, 2003), ambas com Antonio Banderas e Salma Hayek. De fato, às vezes o criador se sai melhor quando há limites e ele precisa buscar soluções e alternativas. El Mariachi não é uma obra revolucionária devido ao seu conteúdo final. Não há nada de inovador no filme. O seu valor vem de como o diretor conseguiu ultrapassar os obstáculos e criar algo interessante e duradouro. São lições simples mas que funcionam, as de nunca desistir, e de que o talento e o conhecimento podem sempre conseguir um espaço. Prós: - Fazer um filme bem estruturado, com base sólida, belas imagens, som decente, atuações aceitáveis, edição de alto nível e uma história pelo menos interessante com apenas US$7,225 é um feito notável e realmente merece todos os aplausos. Um exemplo a ser seguido para quem quer realizar obras comerciais de ação e aventura. - Melhor que muitos filmes de ação com mil vezes seu orçamento. Possui uma característica fundamental: não é uma obra artificial. A paixão de sua construção fica clara. - A edição de ritmo acelerado, câmera nervosa com cortes e zooms rápidos, imagens velozes, ângulos interessantes e constantes close-ups, faz com que o filme mantenha sua tensão e suspense e o observador não tenha chance de reparar seu aspecto amador. - As cenas de ação são bem filmadas, mesmo que às vezes possam ser um pouco confusas. Fazer isso com uma só câmera requer uma edição primorosa, que foi o que de fato aconteceu. - Com exceção do Mariachi, os personagens do filme, inclusive os que pouco são vistos, parecem ter cada um uma individualidade especial. Não são personagens desenvolvidos e complexos, mas às vezes parecem ser maiores do que a tela. O uso de close-ups e cortes rápidos contribuiu para enfatizar esses rostos e tipos incomuns. Contras: - Carlos Gallardo, o Mariachi, carece de carisma, parecendo mais um personagem comum. Sei que muitos diretores gostam de personagens "comuns", do cotidiano. Mas o que o Mariachi faz durante todo o filme não pede um ator de aparência comum e sem apelo. Mesmo que suas mudanças ao longo do filme sejam radicais (arco do personagem), praticamente todos os outros personagens presentes são mais interessantes do que ele. Porém, devo fazer a ressalva que Antonio Banderas, utilizado por Rodriguez nas continuações, é muito, mas muito pior que o Gallardo. - Não há como criticar nada do filme em relação a parte técnica, seria realmente irrelevante e até ofensivo. Mas há algumas falhas graves no roteiro, principalmente em relação a motivação e consistência dos personagens, e aí não importa o orçamento. Os personagens parecem não temer a morte. O Mariachi age de forma muito calma e racional quando perseguido, mesmo na primeira vez que isso acontece, e nem tenta fugir da cidade. Sua relação com a dona do bar é um pouco artificial, e poderia ser melhor trabalhada. São falhas comuns em quase todos os filmes de ação e que poderiam ser corrigidas, contribuindo ainda mais para o status do filme. Devo Assistir ? Não é um filme que terá muito impacto para o cinéfilo casual, pois se não considerarmos seu custo reduzido, é um filme apenas um pouco acima da média (o que já é muito comparado com a quantidade de filmes descartáveis existente). É obrigatório para o estudante de cinema e para o interessado na construção de narrativas, pois é talvez o melhor exemplo do que a criatividade pode fazer com orçamento limitado.