No Calor da Noite (1967)
Por Sandro Massarani
Nome: No Calor da Noite
Rating: 9 / 10
Nome Original: In the Heat of the Night
Ano: 1967
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Duração: 109 min.
Dirigido por: Norman Jewison
Escrito por: Stirling Silliphant (baseado em um romance de John Ball)
Estrelado por: Rod Steiger, Sidney Poitier, Warren Oates, Lee Grant
"Eles me chamam de Mr. Tibbs!"
Enredo:
Policial negro é preso como suspeito de assassinato em um pequena cidade do
sul dos Estados Unidos. Depois de comprovar sua inocência, acaba se juntando
ao competente mas desconfiado xerife para solucionar o brutal crime,
enfrentando a oposição e o preconceito dos habitantes locais.
Histórico:
O racismo nos Estados Unidos tem importantes características que o distingue
do racismo brasileiro. Os norte-americanos se misturam muito menos,
formando comunidades separadas, não só de negros, mas de hispânicos,
italianos, japoneses, etc. Há uma separação visível, o que não ocorre no Brasil.
Isso não significa que no Brasil não haja preconceito, mas a miscigenação do
nosso país acabou pelo menos amenizando de certa forma certos tipos de
relações, mesmo mantendo a brutal desigualdade social. Filmes como No Calor
da Noite, que discutem o tema sem apelação, sempre merecem destaque
especial.
Feito em 1967, no auge das lutas pelos direitos civis dos negros e no ápice da
Guerra do Vietnã, No Calor da Noite é um tenso filme de ação cujo tema central,
o preconceito racial, permanece cada vez mais atual. O racismo não é tratado de
maneira simplificada, e com certeza foi muito desconfortável para a época
mostrar um negro inteligente com ares de Sherlock Holmes. Porém, o filme não
ter um caráter revolucionário, e com certeza foi feito com o cuidado típico
hollywoodiano, de não ofender abertamente ninguém. Um dos grandes méritos
de Jewison foi conseguir passar sua mensagem sem apelar para emoções
baratas e melodrama artificial, algo cada vez mais raro.
A obra é construída claramente em cima da teoria dos contrastes, ou seja,
colocar nos personagens centrais características opostas, tanto físicas quanto
mentais, intensificando os conflitos entre eles. Os dois atores principais não
desapontam e representam de forma brilhante seus papéis. Poitier, que já havia
sido premiado com um Oscar de melhor ator em 1964 por Uma Vez nas
Sombras, continuava tentando abrir caminho para protagonistas negros (até
hoje discriminados) e acabaria influenciando a criação dos Black Movies dos
anos 70. Steiger venceria o Oscar de melhor ator, conseguindo atrair a simpatia
da audiência por um xerife "caipira" que aprende a eliminar seus preconceitos.
Os dois formam o ponto de sustento do filme.
No Calor da Noite foi um dos azarões do Oscar de 1967, sendo indicado para
sete estatuetas e vencendo cinco: melhor filme, ator, roteiro adaptado, edição e
som. A edição foi feita por Hal Ashby que depois iria ser o diretor da obra prima
Muito Além do Jardim. A vitória de melhor filme veio sobre os favoritos Bonnie e
Clyde e A Primeira Noite de um Homem. Uma vitória controversa, mas o valor e
contexto da obra sobreviveu ao tempo. É um filme simples e direto, que passa
de maneira clara sua mensagem, mesmo que nem todos concordem com ela.
Prós:
- Excelente química entre os dois protagonistas. Apesar de Steiger ter ganho o
Oscar merecidamente, Poitier tem uma das melhores atuações de sua carreira.
- Não é sempre que vemos um negro dar um tapa de mão aberta na cara de um
grande latifundiário.
- A impactante cena que Poitier tem que dar a notícia a Lee Grant da morte de
seu marido.
- Trilha sonora de Quincy Jones, o lendário músico e produtor, cuja canção título
é interpretada por Ray Charles.
- O tema do racismo é tratado sem rodeios, mesmo que passe por um
tratamento hollywoodiano de não polemizar além da conta.
- Continua muito atual, mesmo tendo sido feito na década de 1960. Só não sei
se isso é bom ou ruim.
Contras:
- Falta uma cena de ação marcante, como as de Operação França e Bullit, para
complementar as atuações dos atores.
- Com exceção de Lee Grant, a viúva, os atores secundários não conseguem
acompanhar os protagonistas.
- Poderia ser ainda mais polêmico. Mas aí é pedir um pouco demais para um
filme hollywoodiano de grande apelo.
Devo Assistir ?
Deve ser assistido por todos, pois além de manter o seu impacto original, o
filme ainda trata de um tema muito atuante no Brasil, onde também houve a
escravidão negra.
tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais