Acossado (1960)
Por Sandro Massarani
Nome: Acossado
Rating: 8 / 10
Nome Original: A Bout de Souffle
Ano: 1960
País: França
Cor: Preto e Branco
Duração: 89 min.
Dirigido por: Jean Luc Godard
Escrito por: François Truffaut (História), Jean Luc-Godard (Roteiro)
Estrelado por: Jean Paul Belmondo, Jean Seberg, Daniel Boulanger, Jean-Pierre
Melville
"Informantes informam, ladrões ladram,
assassinos assassinam, amantes amam."
Enredo:
Um ladrão a caminho de Paris em um carro roubado acaba matando um policial
que o perseguia. Ao chegar na cidade das luzes, deseja dar prosseguimento a
um relacionamento com uma jovem americana tentando convencê-la a fugir
com ele para Roma.
Histórico:
O primeiro longa de Godard é um filme de grande importância histórica, sendo
um dos representantes pioneiros da Nouvelle Vague francesa, que buscou
romper com o cinema tradicional hollywoodiano de então, ao valorizar um
movimento mais livre da câmera e formar o que chamamos de "cinema de
autor", onde o diretor controla basicamente todos os principais aspectos do
filme e imprime sua visão particular.
A Nouvelle Vague teve origem na revista sobre cinema mais importante da
história, a francesa Cahiers du Cinema, criada pelo teórico Andre Bazin, um dos
principais responsáveis pelo cinema ser visto como algo sério e profundo. O
desenvolvimento tecnológico, que barateou e diminuiu os aparelhos e
máquinas usados em um filme, fez com que diversos críticos da Cahiers se
tornassem diretores, colocando arrojadas idéias em prática. Acossado e Os
Incompreendidos (François Truffaut, 1959) são geralmente considerados os
pioneiros deste heterogêneo movimento, baseado mais nas individualidades de
seus representantes do que em um manifesto de idéias comuns.
Acossado pode muito bem ser o filme mais inovador em termos técnicos da
segunda metade do século XX, ao lado de Guerra nas Estrelas. Porém, ao
contrário do filme de George Lucas, que até hoje provoca discussões se foi ou
não benéfico para o cinema (por consolidar o formato blockbuster), Acossado
ampliou e muito os horizontes cinematográficos.
Escrito por Godard baseado em uma idéia do também revolucionário Truffaut,
que a teve ao ler um jornal, o script era feito na manhã de cada dia de filmagem,
e talvez por isso a história tenha pouca substância e mais valorização das
atitudes dos personagens.
Godard acabaria se tornando um ídolo para a cultura intelectual jovem, como
foi Tarantino na década de 1990, e sua escola cinematográfica iria influenciar e
muito a formação do Cinema Novo no Brasil e a famosa filosofia "uma câmera
na mão e uma idéia na cabeça", que como tudo na vida, tem vantagens e
desvantagens.
Prós:
- Pioneira obra que promoveu inovadoras alternativas de qualidade ao modelo
de cinema de estúdio de Hollywood, sendo um dos clássicos representantes da
Nouvelle Vague francesa.
- Um dos filmes mais significativos já feito devido às inovações técnicas
implementadas por Godard e pelo cinegrafista Raoul Coutard, como ângulos
incomuns da câmera e fortes cortes na cena (jump cut), muitas vezes mudando
rapidamente os personagens de posição mas mantendo o fundo estático.
- A câmera aparenta "perder peso" e muitas vezes se movimenta livremente,
uma técnica bem inovadora e aperfeiçoada por Godard e Coutard. Isso se deve
à utilização de câmeras mais portáteis que permitem inclusive filmagens na
locação, em vez de dentro de um set de estúdio.
- Feito com apenas US$90.000,00 e tendo somente um mês para filmar, não
possui nenhuma falha grave em sua execução, pelo contrário.
- Trouxe aos filmes um contato mais íntimo com personagens, principalmente
devido aos inovadores movimentos e ângulos da câmera e do diálogo mais
revelador.
Contras:
- Belmondo é um excelente ator, com um rosto tão incomum que chega a ser
agradável. Porém, seu papel neste filme não é cativante. Ele poderia ter algumas
qualidades que fizessem o espectador se importar com seu destino. Faltou
identificação entre a audiência e seu personagem. Ao mesmo tempo que há
diálogos interessantes e reveladores, há uma despreocupação com um tipo de
estrutura narrativa tradicional, que mesmo tendo sido uma escolha consciente
de Godard, prejudica e muito a apreciação da história.
- O cinema é talvez a forma de arte mais dependente da coletividade. Por isso,
nem sempre é justa a afirmação "cinema de autor", que pressupõe controle
criativo quase que total do diretor. Nunca devemos subestimar a importância
dos atores, cinegrafistas, auxiliares, produtores, etc. Isso vale para qualquer tipo
de filme. Logo, um filme não é somente produto de uma só pessoa, como a
maioria dos defensores desse movimento muitas vezes alegam, ou pelo menos
fazem transparecer.
Devo Assistir ?
Filme obrigatório para quem se interessa por obras inovadoras, diálogos
existencialistas e pela história do cinema. Porém, sua construção e o seu
desfecho não agrada a todos.
tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais